A cidade de Lucas do Rio Verde é destaque internacional, após uma publicação na revista MIT Sloan Review Brasil. O autor, Paulo Renato Ardenghi que é fundador e CEO da Wise Innovation e professor em MBAs de gestão da inovação, ressaltou sobre a potência da cidade que já é vitrine para o mundo. Confira!
No coração do agro, ela quer ser polo de economia verde
Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, lança uma série de iniciativas para se tornar referência internacional em sustentabilidade
POR QUE ISSO IMPORTA? Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os desafios ambientais mais urgentes até 2030 incluem a escassez de água, a gestão de resíduos e as emissões globais de gases de efeito estufa. A solução nas cidades passa por ações que vão desde a mobilidade sustentável até a transformação digital dos serviços.
A cidade de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, está vivendo essa mudança. Nos últimos dez anos, ela viveu uma grande transformação, com um aumento de 84% na população, segundo o Censo Demográfico de 2022, chegando a 83,8 mil habitantes. Para os próximos dez anos, a ideia é que ela se torne um polo de inovação verde e de soluções sustentáveis, conservando a abundância de recursos naturais, ampliando o agronegócio por meio de novas tecnologias e criando uma nova matriz econômica. É um processo fruto do pacto entre poder público, sociedade civil, iniciativa privada e instituições de ensino. Sustentabilidade na terra do agronegócio Mato Grosso é reconhecido pelos avanços no agronegócio e pelo alto índice de produtividade.
Os dados comprovam: segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o estado responde por 18,2% do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), sendo o maior produtor nacional de grãos, especialmente soja e milho. Mas há espaço para a inovação sustentável. Em 2022, surgiu a Aliança de Inovação do Cerrado (AIC), com o objetivo de acelerar esse processo em Lucas do Rio Verde. A metodologia reuniu agentes de inovação ligados ao tema em Porto Alegre e Florianópolis, além de Barcelona, na Espanha, e Medellín, na Colômbia, cidades reconhecidas por seus processos de inovação urbanística. Em um processo que misturou métodos ágeis e ferramentas de design, o projeto já mobilizou mais de mil pessoas em um exercício de cooperação. A proposta é ousada, porém possível.
Mas por que Lucas do Rio Verde? Porque o município possui os ativos para atingi-la: no Parque dos Buritis, por exemplo, está uma das áreas urbanas com os maiores índices de preservação da mata nativa e do bioma do cerrado. A cidade possui ainda uma das primeiras e principais usinas de biocombustível do País, onde se realizam ainda estudos em biotecnologia e descarbonização, além da implementação de métodos inovadores de plantio para preservação do solo e da água e redução da emissão de carbono em máquinas e veículos.
Um pacto pela inovação, com visão de futuro e cooperação Lançado em março de 2023, o Pacto pela Inovação de Lucas do Rio Verde reúne 600 pessoas e 90 instituições, entre governos municipal e estadual, empresas, universidades, fundações e organizações da sociedade civil. Baseada no fortalecimento do ecossistema de inovação da cidade pela chamada “quádrupla hélice”, a abordagem promove a colaboração e impulsiona a transformação socioeconômica. As cidades são como grandes ecossistemas e a inovação é o vetor que cria interações entre diferentes atores.
O modelo enfatiza a participação e engajamento da sociedade, sustentando-se em quatro pilares:
• Governo: estabelece políticas públicas, marcos regulatórios e programas de incentivo que favoreçam a inovação.
• Academia: conduz pesquisas, forma talentos, promove a educação empreendedora, dá suporte a empreendedores e desenvolve projetos de impacto.
• Iniciativa privada: aplica a inovação transformando-a em produtos, serviços, incrementando seus processos, impulsionando o crescimento econômico, criando empregos e promovendo a competitividade.
• Sociedade civil: desempenha papel ativo na definição de demandas, na adoção de tecnologias e na promoção de valores e práticas sustentáveis.
Para ser referência internacional em economia verde, Lucas do Rio Verde terá de superar uma série de desafios que englobam educação inovadora, futuro sustentável, qualidade de vida, infraestrutura logística e digital, ambiente para a inovação e empreendedorismo, geração de talentos, comunicação e governança. No último mês de julho, os projetos prioritários foram escolhidos, com base em cada desafio: Agro 4.0, Escola de Programadores, Escola de Negócios e Empreendedorismo e Professores Inovadores, focados em geração de talentos; Green School, voltado à educação inovadora; Sandbox Cidade Digital, de infraestrutura; Grande Evento de Inovação e Green Economy, em Comunicação; Startup Lucas, Crédito Verde e Green Hub, voltados ao ambiente para inovação; Saúde Digital, de qualidade de vida; Think Tank Planejamento Sustentável e Gestão de Resíduos Inteligente, de futuro sustentável.
As experiências e conexões internacionais também estão no radar. Neste ano, o município recebeu o espanhol Josep Piqué, reconhecido por seus trabalhos de revitalização de áreas degradadas em Barcelona e em Medellín. Há conexões com Israel, Dinamarca, Finlândia e Suécia para a troca de tecnologias e cooperação.
Em menos de oito meses, a cidade aprovou uma das mais completas leis de inovação do Brasil, criou programa de incentivos fiscais para setores econômicos ligados à economia verde, iniciou sua jornada de inovação governamental, regulamentou políticas públicas de fomento a startups com ênfase naquelas que trabalham a economia verde e constituiu o Fundo de Inovação e o Conselho Municipal de Inovação.
Os próximos dez anos prometem ser verdes e repletos de oportunidades para esse município que, desde que foi fundado, quatro décadas atrás, carrega o “verde” no nome. Que faça jus ao rio de águas esverdeadas que corta seu território.
SOBRE O AUTOR
Paulo Renato Ardenghi é fundador e CEO da Wise Innovation e professor em MBAs de gestão da inovação. Foi um dos principais articuladores do Pacto Alegre, iniciativa de Porto Alegre para a inovação.