A família de Dona Emídia Nunes, uma idosa que faleceu na rede pública de saúde do Distrito Federal em março deste ano, denunciou negligência médica à Polícia Civil após várias tentativas frustradas de atendimento e a descoberta chocante de que um dos rins da idosa desapareceu. O caso ganhou novos contornos com a exumação do corpo, prevista para esta terça-feira, 25 de junho.
O Caso
Dona Emídia, de 83 anos, enfrentou um longo e doloroso processo em busca de atendimento adequado antes de sua morte. Segundo sua filha, Gidália Nunes, a idosa passou por várias tentativas de atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e nos hospitais de Taguatinga e Ceilândia. Só depois de muita insistência, ela conseguiu ser admitida no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), onde acabou falecendo.
Os médicos do HRT declararam que a causa da morte foi uma infecção urinária. No entanto, a certidão de óbito lista causas mais complexas, incluindo sepse, infecção da membrana da cavidade abdominal, diverticulite perfurada, hipertensão e diabetes. Além disso, um laudo subsequente revelou a ausência do rim esquerdo de Dona Emídia, algo que a família afirma não ter sido explicado de forma satisfatória pelas autoridades de saúde.
A Descoberta Chocante
O desaparecimento do rim esquerdo de Dona Emídia foi confirmado por uma tomografia computadorizada realizada no HRT um dia antes de sua morte, que mostrou que ambos os rins estavam em condições normais. Este achado, juntamente com a falta de resposta clara por parte da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), levou a família a buscar justiça.
"Tem sido muito dolorido porque a gente não teve nenhuma resposta da Secretaria de Saúde. As respostas que eles estão dando não estão sendo convincentes para gente. Eles falaram que o rim atrofiou, que o rim não era compatível. A gente quer saber onde que foi parar o rim dela, o que aconteceu e várias outras coisas também, o atendimento, que ela não teve atendimento", disse Gidália Nunes.
Investigações e Ação Legal
A família registrou uma ocorrência policial por negligência médica, erro médico e omissão de socorro. A investigação está sendo conduzida pela Polícia Civil, que instaurou um inquérito para esclarecer as circunstâncias da morte de Dona Emídia e o desaparecimento de seu rim.
O corpo da idosa foi exumado nesta terça-feira, e a expectativa é que os exames cadavéricos possam esclarecer quantos rins estavam presentes e em que estado eles se encontravam. Kenneth Chavante, advogado da família e presidente da Comissão de Direito Médico e da Saúde da OAB de Samambaia, enfatizou a importância da exumação para a obtenção de respostas:
“Não foi efetuado nenhum exame cadavérico da vítima. Diante disso, é de suma importância a realização da exumação do corpo da mesma, para que se possa proceder ao exame cadavérico a fim de identificar a quantidade de rins que se encontram em seu corpo”, afirmou Chavante.
Resposta da Secretaria de Saúde
Em nota, a SES-DF informou que está colaborando com as investigações e fornecendo todas as informações solicitadas pelos órgãos competentes. A Secretaria também declarou que iniciou um processo interno de investigação para apurar os fatos relacionados ao caso de Dona Emídia.
Impacto e Reações
O caso de Dona Emídia levantou preocupações sobre a qualidade do atendimento médico na rede pública de saúde do Distrito Federal e a necessidade de transparência e responsabilidade na administração de cuidados aos pacientes. A comunidade e a família esperam que a exumação e a investigação tragam clareza e justiça ao que aconteceu.
A tragédia de Dona Emídia é um lembrete doloroso das falhas potenciais no sistema de saúde e da importância de vigilância contínua, tanto na prestação de cuidados de saúde quanto na manutenção de padrões éticos e profissionais rigorosos.